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Colibacilose pós-desmameElancoSanidade

Colibacilose Pós-desmame e o seu impacto na suinocultura

O período pós-desmame é bastante desafiador para os leitões, tanto do ponto de vista nutricional como sanitário. As diarréias nesse período são frequentes e possuem origem multifatorial, trazendo muitos prejuízos à suinocultura moderna. Uma das principais causas de diarreia nessa fase de vida do leitão é a infecção por Escherichia coli enterotoxigênica (ETEC), causando a chamada Colibacilose Pós-Desmame (CPD). Com alta prevalência nos países de maior produção de suínos, a CPD ocorre com maior frequência nas 2-3 semanas seguintes ao desmame e é caracterizada por diarreia abundante, desidratação, mortalidade significativa e perda de peso corporal dos leitões sobreviventes (Amezcua, 2002a).

Os leitões ingerem a bactéria presente no ambiente, especialmente proveniente da fêmea e do ambiente da maternidade ou da  creche. Se patogênica, a E. coli terá a capacidade de expressar fímbrias (F4 e F18) e produzir enterotoxinas (LT, Sta, Stb e EAST1), ambas essenciais para o desenvolvimento da doença (Fairbrother, 2005). Estes fatores de virulência permitirão a adesão ao epitélio do intestino delgado do leitão, causando aumento da secreção de água e eletrólitos no lúmen intestinal e alterando as funções dos enterócitos, aumentando a secreção e reduzindo a absorção (Zhang, 2006). A secreção excessiva de eletrólitos e água leva à desidratação, acidose metabólica, diarreia osmótica e possível morte (Dubreuil, 2016). 

As perdas econômicas relacionadas à doença são expressivas devidas ao emagrecimento dos animais, redução no crescimento, aumento do uso de medicamentos e desinfetantes, redução no ganho de peso, piora na conversão alimentar, maior predisposição dos leitões afetados às infecções secundárias e aumento na variabilidade de peso (Barcellos, 1991; Ewing, 1994; Barcellos, 2011). A mortalidade associada a esta doença pode chegar a 20-30% em leitões desmamados durante surtos agudos, por períodos de 1 a 2 meses de lotes desmamados (Fairbrother et al., 2005). Um estudo canadense demonstrou que a mortalidade na creche aumentou de 2% para 7% em granjas que passaram por surtos de CPD e as perdas anuais foram estimadas em  vinte e mil dólares para um rebanho de 500 fêmeas (Amezcua, 2002b). 

A colibacilose pós-desmame é uma doença associada aos fatores de risco e para mantê-la sob controle é necessário uma abordagem holística, envolvendo vários processos ao longo dos primeiros meses de vida do leitão (Fig. 1). Os fatores de risco precisam ser controlados para reduzir a probabilidade da doença acontecer e, para isso, são necessários manejos básicos dentro da granja. Os principais manejos consistem na garantia da ingestão adequada de colostro, idade adequada ao desmame, condições de alojamento (limpeza, desinfecção e vazio sanitário), temperatura ambiente, densidade adequada, qualidade e garantia de consumo de ração, biosseguridade, bem como diagnóstico correto da doença, tratamento e monitoramento. 

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Figura 1. Ilustração das intervenções para o manejo da Diarreia pós desmame em granjas de suínos. Adaptado de Rhouma et al., 2017.

Apesar da evolução ao longo dos anos na prevenção de doenças e melhoria da saúde geral dos rebanhos, a CPD permanece sendo um problema que gera perdas econômicas significativas no sistema produtivo de suínos. É de suma importância entender o impacto que a doença pode trazer para a cadeia produtiva para justificar investimentos no seu controle e prevenção. Garantir que os principais fatores de risco sejam bem trabalhados é o primeiro passo no controle da Colibacilose pós-desmame.

Referências

  1. Amezcua R, Friendship RM, Dewey CE, Gyles C, Fairbrother JM. Presentation of postweaning Escherichia coli diarrhea in southern Ontario, prevalence of hemolytic E. coli serogroups involved, and their antimicrobial resistance patterns. Can J Vet R. 2002a; 63; 73-8.
  2. Amezcua R, Friendship R, Dewey C, Gyles C. A case-control study investigating risk factors associated with postweaning Escherichia coli diarrhea in southern Ontario. J Swine Health Prod. 2002b; 10:245–9.
  3. Barcellos DESN, Sato JPH, Andrade MR. Diarreias nutricionais dos suínos: uma visão do veterinário clínico. Anais In: Simpósio Internacional de Suinocultura, Porto Alegre/RS, p.23-34, 2011.
  4. Barcellos DESN, Stepan AL. Estudo etiológico de diarreia em leitões recentemente desmamados. Anais In: Congresso Brasileiro de Veterinários Especialistas em Suínos, Águas de Lindóia/SP, p.60, 1991.
  5. Dubreuil JD, Isaacson RE, Schifferli DM. Animal enterotoxigenic Escherichia coli. EcoSal Plus. 2016;7. doi:10.1128/ecosalplus. ESP-0006-2016
  6. Ewing WN, Cole DJA. The Living Gut: An Introduction to Microorganisms in Nutrition. N. Ireland: Context, 220p., 1994.
  7. Fairbrother JM, Nadeau E, Gyles CL. Escherichia coli in postweaning diarrhea in pigs: an update on bacterial types, pathogenesis, and prevention strategies. Anim Health Res Rev. 2005; 6:17–39a. Rhouma M, Fairbrother JM, Beaudry F, Letellier M. Post weaning diarrhea in pigs: risk factor and non-colistin-based control strategies. Acta Veterinaria Scandinavica. 2017; 59:31
  8. Zhang W, Berberov EM, Freeling J, He D, Moxley RA, Francis DH. Significance of heat-stable and heat-labile enterotoxins in porcine colibacillosis in an additive model for pathogenicity studies. Infect Immun. 2006; 74:3107–14.

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