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Casos Clínicos

Úlcera gástrica – Caso Clínico

Um Médico Veterinário foi solicitado para diagnosticar um problema de aumento de mortalidade em marrãs. A granja era de ciclo completo, com aproximadamente 2000 matrizes e reposição interna. As marrãs de reposição permaneciam em baias coletivas até manifestarem o primeiro cio e depois eram transferidas para outro galpão com gaiolas individuais. O arraçoamento dos animais era feito com ração do tipo gestação marrã, fracionados em dois tratos.

Relatou-se que quatro dias após a transferência dos animais de reposição às gaiolas individuais, uma leitoa apresentou fezes escuras, apatia e diminuição de apetite. Nos dois dias subsequentes, mais duas marrãs iniciaram a manifestação dos mesmos sinais clínicos. Suspeitando ser um quadro de ileíte aguda causada pela bactéria Lawsonia intracellularis, os animais foram realocados para gaiolas isoladas. O quadro clínico evoluiu rapidamente para uma palidez intensa, com perda de escore corporal, vômitos, decúbito lateral e relutância a se levantar. As três leitoas vieram a óbito. A granulometria média da ração encontrava-se abaixo dos 500 micrômetros, caracterizando-a como uma ração fina. À necropsia, observou-se palidez acentuada da musculatura e dos órgãos abdominais. A abertura do estômago revelou presença de grande quantidade de sangue coagulado. Na região do quadrilátero esofágico, observou-se área de perda de continuidade da mucosa, com bordas elevadas em relação ao parênquima, regulares e hiperêmicas, características compatíveis com úlcera gástrica. Não foram identificadas lesões macroscópicas nos intestinos, descartando, dessa maneira, um diagnóstico de ileíte e confirmando que a perda de sangue decorrente da úlcera no estômago é que causou a morte dos animais.

A úlcera esofagogástrica tem origem multifatorial é uma das principais causas de morte súbita em reprodutores (Sobestiansky e Barcellos, 2012). A região gástrica afetada nesse caso clínico corresponde ao quadrilátero esofágico (QE), uma zona que não produz muco e por isso é muito susceptível aos efeitos do pH ácido do estômago. A transferência de animais, a restrição de espaço e o jejum prolongado são alguns fatores estressantes que provocam aumento de secreção ácida com consequente falha na integridade da mucosa estomacal (Santos e Alessi, 2016). Rações de granulometria fina (média de partículas com diâmetro inferior a 500 micrômetros) tornam o conteúdo mais fluido, permitindo maior contato da secreção gástrica com o epitélio do estômago.  A temperatura elevada da instalação e mudanças no manejo alimentar, como a troca de uma ração para outra ou variação no número de tratos, também podem contribuir para o aumento da incidência de úlceras gástricas. Portanto, as medidas preventivas devem estar relacionadas ao controle dos fatores de risco mencionados. Deve-se garantir livre acesso de água, granulometria adequada da ração (entre 500 e 600 micrômetros) e diminuição do estresse dos animais (Almeida et al., 2007).

Além da ileíte, outras afecções também são diagnósticos diferenciais de úlcera, tais como torção, síndrome hemorrágica intestinal e disenteria suína. As necropsias e os exames laboratoriais são ferramentas essenciais para o um diagnóstico preciso, um tratamento específico e medidas preventivas eficazes.

? Tatiana Fiuza

Referências bibliográficas

Almeida, M.N.; Lippke, R. T.; Vearick, G.; Mellagi, A. P. G.; Bortolozzo, F. P.; Wentz, I.; Barcellos, D. Aspectos epidemiológicos e controle da mortalidade de matrizes na suinocultura tecnificada. Acta Scientiae Veterinariae. p.35-91, 2007

Guedes, R. M. C,; Brown, C. C.; Sequeira, J. L.. Sistema Digestório. Lima, R. S.; Patologia Veterinária. 2. ed. Roca. Rio de Janeiro, 2016. cap. 3, p. 116-18.

Sobestiansky, J.; Kieckhefer, H.; Úlcera Gástrica. Sobestiansky, J.; Barcellos, D. Doenças dos Suínos. 2. ed.Canone. Goiania, 2012 p. 826-834.