A vacinação oral de leitões para Colibacilose pós-desmame é possível
A colibacilose pós-desmame (CPD), causada pela Escherichia coli Enterotoxigênica (ETEC), é uma doença amplamente difundida em leitões com alta prevalência nos países de maior produção de suínos (Vangroenweghe et al., 2016; Sato et al., 2016). Ocorre com maior frequência nas 2-3 semanas seguintes ao desmame e é caracterizada por diarreia abundante, desidratação, mortalidade significativa e perda de peso corporal dos leitões sobreviventes (Amezcua, 2002). Apesar das diarreias neonatais causadas por ETEC serem efetivamente controladas pelas vacinas realizadas em fêmeas gestantes (Melkebeek et al., 2013), a imunidade passiva não é efetiva no período pós-desmame e se torna necessária uma imunidade de mucosa ativa contra a CPD (McGhee et al. 1992).
A vacinação oral de leitões tem sido uma abordagem eficaz para reduzir a ocorrência de doenças gastrointestinais e a pressão de infecção, além de aumentar a imunidade na população de suínos (Fairbrother & Nadeau, 2005). Vários estudos conduzidos com vacinação oral em suínos demonstraram redução na necessidade de administração terapêutica de antibióticos (Melkebeek et al., 2013; Vangroenweghe et al., 2020), favorecendo as políticas de uso prudente de antimicrobianos que vem sendo implantadas ou sugeridas em alguns países. As vacinas orais contra Enterite Proliferativa e Salmonelose são as únicas disponíveis atualmente no mercado brasileiro, porém existem outras opções disponíveis no mercado mundial.
Já disponíveis em alguns países da Europa e América do Norte, as vacinas orais de E. coli avirulentas vivas e atenuadas tem apresentado resultados promissores no controle de infecções por ETEC. Estas vacinas são adicionadas à água de beber e administradas aos leitões aos 18 dias de vida ou mais. Estudos clínicos confirmaram que a administração desta vacina reduziu significativamente a colonização intestinal e excreção de ETEC (F4 e F18), o número de leitões com diarreia moderada ou severa, bem como a severidade da diarreia (Adewole et al., 2016; Nadeau et al., 2017). A imunidade em leitões começa aos 7 dias após a vacinação oral, levando em consideração que a sintomatologia causada por ETEC ocorre, geralmente, na primeira semana após o desmame. (Nadeau, 2011). Sendo assim, o tempo de administração desta vacina deve ser ajustado de acordo com o desafio. Em geral, o sucesso da vacinação contra CPD depende em grande parte da identificação da ETEC envolvida (F4 ou F18) mais prevalente na granja, resultando na combinação dos antígenos protetores apropriados, tendo em vista que não há proteção cruzada contra cepas de ETEC expressando uma fímbria ou toxina diferente.
Além dos benefícios relacionados à prevenção da CPD, como redução da excreção do agente e dos sinais clínicos e mortalidade, a vacinação oral dos leitões permite a redução do uso de antibióticos no período pós-desmame. Essa redução acontece por dois fatores: 1) com o uso da vacina não é necessário usar os pulsos preventivos com foco em CPD no período pós-desmame (geralmente contendo colistina, neomicina, avilamicina, entre outros); 2) os animais vacinados possuem uma taxa de intervenção medicamentosa (injetáveis e solúveis) mais baixa que os animais não vacinados (comparado a grupos de leitões recebendo antibióticos ou outros aditivos na ração) (Vangroenweghe et al., 2018 e 2020). Sendo assim, com a crescente restrição para uso de alguns antibióticos e aditivos (ex: colistina em muitos países, óxido de zinco na Europa) na produção de suínos, a vacina oral para CPD vem se tornando uma ótima alternativa no futuro, visando aliar bem-estar animal com uso prudente de antimicrobianos.
Referências
- Adewole DI, Kim IH, Nyachoti CM. Gut health of pigs: challenge models and response criteria with a critical analysis of the effectiveness of selected feed additives—a review. Asian Aust J Anim Sci. 2016; 29: 909–24.
- Amezcua R, Friendship RM, Dewey CE, Gyles C, Fairbrother JM. Presentation of postweaning E. coli diarrhea in southern Ontario, prevalence of hemolytic E. coli serogroups involved, and their antimicrobial resistance patterns. Can J Vet R. 2002; 63; 73-8.
- Fairbrother JM, Nadeau E, Gyles CL. Escherichia coli in postweaning diarrhea in pigs: an update on bacterial types, pathogenesis, and prevention strategies. Anim Health Res Rev. 2005; 6:17–39.
- Melkebeek, V., Goddeeris, B.M., Cox, E., 2013. ETEC vaccination in pigs. Veterinary Immunology and Immunopathology 152, 37–42.
- McGhee, J.R., Mestecky, J., Dertzbaugh, M.T., Eldridge, J.H., Hirasawa, M., Kiyono, H., 1992. The mucosal immune system: from fundamental concepts to vaccine development. Vaccine 10, 75–88.
- Nadeau E, Fairbrother JM. Use of live bacteria for growth promotion in animals. In: Google Patents; 2011.
- Nadeau, E, Fairbrother JM, Zentek J, Bélanger L, Tremblay D, Tremblay CL, Röhe I, Vahjen W, Brunelle M, Hellmann K, Cveji D, Brunner B, Schneider C, Bauer K, Wolf R, Hidalgo A. Efficacy of a single oral dose of a live bivalent E. coli vaccine against post-weaning diarrhea due to F4 and F18-positive enterotoxigenic E. coli. The Veterinary Journal, 201, 32-39.
- Sato, J.P.H., Takeuti, K.L., Andrade, M.R., Koerich, P.K.V., Tagliari, V., Bernardi, M.L., Cardoso, M.R.I., Barcellos, D.E.S.N. Virulence profile of enterotoxigenic Escherichia coli isolated from piglets with post-weaning diarrhea and classification according to fecal consistency. Pesq. Vet. Bras.,2016 36, (4): 253-257.
- Vangroenweghe F., et al. 2016. Prevalence of virulence factors of Escherichia coli isolated from piglets with post-weaning diarrhoea in Belgium and The Netherlands. Proceedings of the 24th IPVS / 8th ESPHM, 7-10th June, Dublin, Ireland, p 213.
- Vangroenweghe F, Thas, O. Improved Piglet Performance and Reduced Antibiotic Use Following Oral Vaccination with a Live Avirulent Escherichia Coli F4 Vaccine against Post-Weaning Diarrhea. J Clin Res and Med, 2020; 3 (2), 1-8.
- Vangroenweghe F, Defoort P, Jacobs A. Vaccination with a live bivalent E. coli F4/F18 vaccine for the prevention of F18-ETEC post-weaning diarrhea. SHPHM, 2018, 74.