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Colibacilose Neonatal: doença do passado?

Dentre as principais doenças que afetam a integridade intestinal dos leitões no período de maternidade, podemos destacar a colibacilose neonatal. A infecção por cepas enterotoxigênicas de Escherichia coli (ETEC), agente etiológico da doença, resulta em diarreia nos primeiros dias pós-nascimento do leitão, geralmente entre o primeiro e quarto dia de vida (WADA et al, 2004). A maioria das cepas de E.coli estão presentes em títulos baixos e são parte da microbiota normal de suínos sadios. Porém, quando as amostras de ETEC encontram condições de se multiplicar no intestino dos leitões, são capazes de aderir ao intestino e produzir toxinas que culminam na colibacilose neonatal (Fairbrother, 1999). 

O que determina se a E.coli é Enterotoxigênica, e patogênica, é a capacidade de expressar ao menos dois fatores de virulência: fímbrias e toxinas (Francis, 2002). As fímbrias são responsáveis pela adesão da bactéria à mucosa do intestino, sendo este um mecanismo essencial para a ocorrência da doença. Uma vez a bactéria aderida ao epitélio intestinal, inicia-se a produção de toxinas, que alteram o fluxo de água e eletrólitos do intestino delgado, desencadeando os sinais clínicos. Na diarreia neonatal, as principais fímbrias envolvidas são F4, F5, F6, F41 e AIDA e as principais toxinas são as termoestáveis (STa e STb), termolábeis (LT) e a enterotoxina agressiva EAST-1 (Fairbrother, 1999; Luppi, 2007).

O leitão adquire a ETEC por via de contaminação fecal-oral a partir do ambiente ou pelas fezes da fêmea, logo após o nascimento. A severidade da doença depende da patogenicidade das cepas (fímbrias e toxinas), da quantidade de bactérias ingeridas e do status imunológico da matriz e do leitão. Os sinais clínicos são diarreia aquosa e amarelada que acometem os leitões algumas horas após o nascimento até o 7º dia de vida (Fairbrother, 1999). Devido à perda excessiva de líquidos, os leitões apresentam-se desidratados, com aspecto de sujos e podem morrer em até 24 horas. Muitos leitões podem ser afetados na maternidade (alta morbidade), o que pode levar também a altas taxas de mortalidade. Devido à patogenia da doença, poucas alterações patológicas são identificadas.

Além dos sinais clínicos citados acima, o diagnóstico laboratorial contempla o isolamento do agente, sendo que amostras patogênicas geralmente são hemolíticas quando isoladas em ágar sangue. No entanto, é importante fazer também a análise genotípica da cepa (através de PCR) para identificar os fatores de virulência (fímbrias e toxinas) (Guedes, 2006). Essa última análise vai garantir que a bactéria isolada é realmente patogênica. Um estudo realizado no Brasil em 2015 demonstrou que apenas 43% das cepas de E.coli isoladas possuíam algum fator de virulência, sendo que nos outros casos, apesar da presença da E. Coli detectada nos exames, a causa da diarreia estava relacionada à outros agentes (Xavier, 2015).

A doença é mais comum em leitegadas provenientes de fêmeas de primeiro parto e pode ser relacionada a um manejo ineficiente de colostro. Sendo assim, garantir um bom protocolo de vacinação para as fêmeas (atenção especial para OP1) e a ingestão adequada de colostro é essencial para que a doença seja mantida sob controle. O protocolo de vacinação, salvo situações atípicas, consiste na aplicação de duas doses da vacina em fêmeas de primeiro parto (70 e 90 dias de gestação) e uma dose em fêmeas multíparas (90 dias de gestação). O objetivo é que as fêmeas produzam um colostro rico em imunoglobulinas que auxiliem o leitão a enfrentar o desafio, caso ele seja exposto à bactéria. Somado aos manejos de colostro e vacinação, as condições de limpeza e desinfecção da sala de maternidade também podem auxiliar na redução de diarreias causadas por E.Coli e até mesmo de outros agentes infecciosos (Barcellos, 2012).

A colibacilose neonatal é um problema antigo e bem conhecido, mas que, quando negligenciado, pode causar prejuízos consideráveis ao sistema de produção. Por isso, é de suma importância estarmos sempre atentos aos manejos realizados na maternidade, especialmente os que envolvem o leitão e o ambiente. A monitoria constante dessas atividades é essencial para que a doença se mantenha sob controle.

Referências

Barcellos, D. E.; Morés, N. Colibacilose Neonatal. In: Doença dos Suínos, 2ed, Goiânia: Cânone editorial, p. 116-121, 2012

Fairbrother, J. M. Neonatal Escherichia coli. In: Disease of Swine, 8ed. Ames: Iowa State University Press, 1999, v. 1, cap. 32, p. 433-441. 

Francis, D. H. Enterotoxigenic Escherichia coli infection in pigs and its diagnosis. Journal of Swine Health and Production, v.10, n. 4, p. 171-175, 2002.

Guedes, R. M. C. Virulence determinant genes and antimicrobial sensitivity of Escherichia coli strains isolated from diarrheic piglets in the state of Minas Gerais, Brazil. In: Proceedings of XIX IPVS Congress, Compenhaghem, 2006.

Luppi, A. Swine enteric colibacillosis: diagnosis, therapy and antimicrobial resistance. Porcine Health Management, 3:16, 2007.

Xavier, J. O. F.; Kuchiishi, S., Lopes, L. S. Detecção de fatores de virulência e avaliação da resistência a antimicrobianos de Escherichia coli isoladas de leitões diarreicos. In: XVII Congresso Abraves, Campinas – SP, 2015.

Wada, Y. Invasive ability of Escherichia coli 018 isolated from swine neonatal diarrhea. Veterinary Pathology, v. 14, n. 4, p. 433-437, 2004.