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Casos Clínicos

Caso clínico: Disenteria suína

Um laboratório recebeu dez amostras de fezes provenientes de uma granja de ciclo completo. Na solicitação de exames, o histórico informava que as amostras pertenciam a fêmeas em quarentena, com cerca de 130 dias de idade. O responsável pelo laboratório recebia com frequência, fezes provenientes desse quarentenário, as quais eram sempre acompanhadas por uma ligação do veterinário responsável pela granja. Naquela ocasião, as informações eram de que quatro das dez fêmeas, apresentavam fezes amolecidas e escuras, e o veterinário estava incerto se havia ou não, a presença de sangue, muco ou material necrótico nas amostras. O fato era que, aquele sinal clínico não era visto há muito tempo na granja. Os resultados dos exames seriam muito importantes no futuro do plantel, uma vez que as fêmeas estavam prestes a serem introduzidos no rebanho, dependendo apenas do laudo que seria emitido pelo laboratório. As fezes foram imediatamente encaminhadas para isolamento e PCR quantitativa (qPCR).

Enquanto aguardava os resultados, o veterinário continuou acompanhando os animais do quarentenário. Ele recebia semanalmente fêmeas oriundas de granjas livres de Mycoplasma hyopneumoniae, as quais permaneciam na quarentena por 28 dias. O envio de fezes e soro para o laboratório era uma prática rotineira e muito necessária, uma vez que o sistema era de status sanitário elevado. Mas como esses animais eram provenientes sempre da mesma origem, o veterinário não se preocupava tanto. Geralmente, o único motivo pelo qual as fêmeas eram descartadas no quarentenário era devido a falhas locomotoras.

As fêmeas com sinais clínicos suspeitos foram isoladas. Com menos animais na baia, o veterinário conseguiu enxergar mais facilmente que elas pareciam apáticas, haviam perdido peso e a diarreia persistia com uma aparência mais severa comparando-se ao dia anterior. Preocupado com a saúde dos animais de reposição e com a possibilidade de mais fêmeas estarem doentes, o veterinário permaneceu por mais algumas horas na instalação de quarentena. Aparentemente, não havia outros animais com diarreia, mas ele reparou um aumento significativo do número de roedores na instalação.

No dia seguinte, o laboratório encaminhou para o veterinário os resultados da qPCR. No isolamento bacteriano, não houve crescimento de colônias de Salmonella spp, um dos agentes infecciosos causadores de diarreia em animais mais velhos e que, portanto, foi incluído entre os agentes diferenciais. Os resultados dos testes moleculares revelaram uma grande quantidade da bactéria Brachyspira hyodysenteriae nas fazes das fêmeas com diarreia. Concomitantemente, esses animais também se apresentaram positivos para a bactéria Lawsonia intracellularis, porém, a taxa de eliminação desse agente era muito menor se comparado a Brachyspira hyodysenteriae.

Os sinais clínicos das quatro fêmeas doentes se intensificaram, sendo possível observar muco, sangue e partículas de ração nas fezes. Elas vieram a óbito cerca de 72h após o início dos primeiros sinais clínicos. À necropsia, as lesões no intestino grosso foram classificadas de colite muco-hemorrágica difusa moderada a colite catarral fibrinonecro-hemorrágica difusa acentuada, observando-se ainda um intenso edema de mesocólon e discreto espessamento da mucosa do intestino delgado. O conteúdo do intestino grosso foi encaminhado para isolamento sob refrigeração. Fragmentos de ceco, cólon e íleo foram fixados em solução de formalina 10%.

No exame histopatológico do intestino grosso, observou-se hiperplasia de células caliciformes associada a necrose superficial da mucosa e infiltrado inflamatório predominantemente neutrofílico. No isolamento bacteriano, observou-se crescimento de colônias beta-hemolíticas, características da Brachyspira hyodysenteriae. Ambos os resultados corroboraram com os da qPCR das fezes. O veterinário fechou o diagnóstico como disenteria suína (DS) associada a ileíte subclínica. A quarentena é uma medida de biossegurança que foi decisiva para impedir a entrada de um novo agente infeccioso no rebanho. O médico veterinário intensificou as medidas de desinfecção nas instalações e desenvolveu um novo programa de controle para roedores, uma vez que esses animais são potenciais da Brachyspira hyodysenteriae.

A DS pode ocorrer em granjas independentemente do manejo adotado, no entanto, a morbidade e mortalidade são influenciadas por situações estressantes e más condições de higiene. A ocorrência de um surto pode estar relacionada a introdução de animais de reprodução positivos para o patógeno e a ausência de um quarentenário na granja. A co-infecção da Brachyspira hyodysenteriae com outros agentes é um cenário possível e comum, sendo que seus sinais clínicos e lesões podem tornar-se mais severos quando combinados a infecção com vírus e outras bactérias.

Fotos: Amanda Gabrielle de Souza Daniel

Referências

GUEDES, R. M. C. & BARCELLOS, D. 2012. Disenteria Suína. In: Sobestiansky, J. & Barcellos, D. Doenças dos Suínos. 2ªed. Goiânia: Cânone Editorial. p. 128-134.