Caso clínico: Notificação de doença vesicular
Uma médica veterinária foi solicitada a realizar atendimento no quarentenário de uma Unidade Produtora de Leitões (UPL). As leitoas de reposição dessa eram oriundas de diferentes granjas GRSC (Granjas de Reprodutores Suídeos Certificadas), sendo entregues no sistema com uma frequência semanal e mantidas em quarentena por vinte e oito dias. A veterinária foi informada que o lote das leitoas recém alojadas apresentou uma prevalência anormal de animais com claudicação. De acordo com o gerente da UPL, as leitoas começaram a mancar três dias após a chegada na quarentena. Alguns animais ainda apresentaram febre e moderada perda de condição corporal.
A veterinária realizou a visita dois dias depois de receber a solicitação. O exame clínico das leitoas foi feito de forma minuciosa, com inspeção dos cascos, aferição de temperatura retal e exame de claudicação. Observou-se lesões vesiculares na região da banda coronária, no espaço interdigital e na sola do casco. Além disso, algumas leitoas também apresentaram vesículas não ulceradas no focinho e na cavidade oral. Esses sinais clínicos associavam-se a febre, claudicação, letargia e emagrecimento. Ciente de que o quadro clínico observado era compatível com os das doenças vesiculares dos suínos, o caso foi imediatamente notificado ao Serviço Veterinário Oficial do estado.
Os Médicos Veterinários do Serviço Oficial chegaram na granja em menos de doze horas após o reporte da doença. As amostras coletadas para o diagnóstico clínico consistiram nas lesões e no conteúdo vesicular (líquido vesicular), e foram remetidas ao laboratório oficial sob refrigeração.
O resultado da RT-PCR revelou amostras positivas para Senecavírus A (SVA), um vírus infeccioso da família Picornaviridae, genus Senecavirus. Uma vez que as lesões e sinais clínicos são indistinguíveis das outras doenças vesiculares de suínos (febre aftosa, estomatite vesicular e exantema vesicular), o diagnóstico diferencial é essencial e obrigatório. A rápida notificação da suspeita da doença, permitiu que a intervenção do Serviço Veterinário Oficial acontecesse de forma eficiente. Até o diagnóstico oficial ser liberado, a UPL e todas granjas núcleo GRSC associadas a ela, foram interditadas. Foi necessário investigar por informações epidemiológicas do surto, como origem, rastreabilidade e incidência.
Uma vez que não existem tratamentos ou vacinas disponíveis, o controle do Senecavírus baseia-se em medidas de limpeza, desinfecção, vazio sanitário e, principalmente, biosseguridade do rebanho (entrada de animais, veículos, visitantes e alimentos). As suspeitas de doenças vesiculares devem ser imediatamente notificadas ao Serviço Veterinário Oficial do estado, via telefone ou através do preenchimento de formulários via internet. Quando diagnosticados a tempo, os suínos terminados podem transitar para os frigoríficos com uma observação na Guia de Trânsito Animal (GTA), permitindo, dessa forma, que sejam liberados para o abate.
Ressalta-se que apesar da doença não causar impacto de saúde pública ou embargos econômicos, ela tem uma grande importância, pois apenas as análises laboratoriais conseguem distingui-la da febre aftosa. Qualquer cidadão, organização ou instituição que possua animais sob sua responsabilidade ou tenha conhecimento de casos suspeitos ou confirmados, deve informar o Serviço Veterinário Oficial para a definição e providências necessárias. Portanto, a notificação é responsabilidade de todos.
Fotos: Luiza Pommerehn
Referências Bibliográficas:
Morés, N. Zanella, J.R.C.; PERDAS NEONATAIS EPIDÊMICAS TRANSIENTES E DOENÇA VESICULAR ASSOCIADA COM INFECÇÃO COM O SENECA VALLEY VIRUS (SENECAVÍRUS A). Instrução Técnica Para o Suinocultor. Embrapa Suínos e Aves. 1 ed. Dezembro, 2015.