Caso clínico – Repetição de cio e descargas vulvares
O responsável por um sistema de produção de suínos identificou um aumento nos índices de retorno ao cio após a inseminação. A granja era de ciclo completo, com 2200 matrizes e taxa de reposição de, aproximadamente 48% ao ano. Cerca de cem fêmeas eram cobertas por semana e o protocolo de inseminação consistia em uma dose diária, aplicada pela manhã, enquanto a fêmea apresentasse cio. As leitoas eram inseminadas obedecendo a técnica da inseminação cervical, enquanto as porcas eram inseminadas pela técnica pós-cervical. A meta de retorno ao cio era de até 7%. No entanto, os funcionários observavam que, de cem fêmeas cobertas semanalmente, cerca de 12 retornavam ao cio entre os dias 18 e 24 pós-cobertura. Simultaneamente a esses episódios, havia um aumento na frequência de descargas vulvares, problema que os funcionários não tiveram sucesso em definir uma causa exata.
Ao chegar na granja, a veterinária analisou os índices zootécnicos do sistema referentes aos últimos 12 meses. Os dados revelaram que o aumento na taxa de repetição havia iniciado quatro meses antes, persistindo até aquele dia. O resto do período mostrou índices normais, que não ultrapassavam 8% de retorno. Consequentemente, o problema impactou negativamente na taxa de parição, que havia reduzido para 85% no último mês. De acordo com o gerente, os manejos continuavam iguais, a nutrição das matrizes não havia mudado e as análises de micotoxinas na ração mostravam valores normais.
Ao examinar os animais, a veterinária realmente constatou que a frequência de porcas com descargas vulvares estava alta. A secreção apresentava aspecto amarelado e purulento, fluindo em grande quantidade. Aquele sinal clínico era altamente indicativo de endometrite ou metrite, e a causa também precisava ser desvendada. Muito provavelmente, o agente infeccioso se disseminara por via ascendente. Não era nenhuma uma coincidência que as fêmeas que apresentavam a descarga, fossem as mesmas que repetissem o cio, uma vez que as duas situações estão interligadas.
Ao acompanhar o processo de inseminação, a veterinária notou que nem todos os funcionários cumpriam todas as etapas de forma correta. Aqueles com pouca experiência apresentavam evidentes dificuldades em detectar sinais de estro e algumas fêmeas eram inseminadas sem parar totalmente para o macho. Além disso, esses mesmos funcionários não faziam uma higienização bem feita das mãos e da vulva da porca. A higiene da parte posterior da gaiola era muito precária, com muito acumulo de fezes. Dessa forma, os agentes causadores de infecção entravam no trato genital através da introdução ativa da pipeta de inseminação e da dose inseminante.
Destaca-se a importância do treinamento dos funcionários do setor de gestação, capacitando-os a realizar a técnica de inseminação da forma correta e sob adequadas condições de higiene. O médico veterinário deve acompanhar, com frequência, os manejos realizados pelos funcionários e orientá-los sempre que necessário. A análise constante dos dados de desempenho é essencial, assim como a inspeção do rebanho e dos animais individualmente. Em relação ao aumento das taxas de retorno, outros fatores devem sempre serem levados em consideração, tais como: a qualidade do sêmen, a desinfecção do ambiente, número de parições, condição corporal da porca, dentre outros.
Foto 1: Claiton Schwertz
Foto 2: Thairê Maróstica
Referências:
SOBESTIANSKY, J., ZANELLA, E., SILVEIRA, P. R. S., SCHEID, I. 2012. Falhas Reprodutivas. In: SOBESTIANSKY, J. & BARCELLOS, D. Doenças dos Suínos. 2ªed. Goiânia: Cânone Editorial. p. 649-690.