Caso clínico: Rotavírus
Uma Unidade Produtora de Leitões (UPL) reportou um surto de diarreia em leitões com 10-12 dias de idade. O rebanho era de 1000 matrizes e contava com uma taxa de reposição de 57%. As instalações da maternidade eram antigas, com pouca ventilação e apresentavam baias de difícil limpeza e desinfecção.
Os sinais clínicos iniciavam-se com apatia, hipertermia (40-42°C), inapetência, vômitos e diarreia severa de aspecto aquoso, amarelado e fétido. Os leitões evoluíam, rapidamente, para um quadro de grave desidratação e óbito. Suspeitando que a sintomatologia fosse resultado de uma infecção bacteriana, o médico veterinário medicou os leitões com um antibiótico injetável. O tratamento não foi bem sucedido e os sobreviventes, além de se recuperarem de forma lenta, apresentaram desenvolvimento reduzido.
Cinco leitões na fase aguda da doença foram submetidos à necropsia e observou-se que o intestino delgado estava dilatado, flácido e com paredes delgadas. O conteúdo apresentava-se aquoso e amarelado, sendo possível visualizá-lo através da fina parede intestinal. Fragmentos do intestino delgado, fígado e baço foram fixados em formalina para posterior processamento histológico. As fezes foram coletadas para a realização de exames parasitológicos e moleculares. Adicionalmente, segmentos do intestino delgado foram encaminhados para isolamento bacteriano.
Não houve crescimento de colônias de Escherichia coli, Clostridium difficile ou Clostridium perfringes em meio de cultura. A técnica de centrifugoflutação em solução saturada de sacarose não revelou presença de oocistos de Isospora suis. No exame histopatológico do intestino delgado, observou-se atrofia, fusão de vilosidades e degeneração de enterócitos. Não foram identificados cocobacilos aderidos aos enterócitos ou coccícidios no citoplasma dos mesmos. As lesões eram sugestivas de infecção por rotavirose, suspeita que foi confirmada após testar as fezes pelo RT-PCR.
O manejo e a imunidade do rebanho são alguns dos fatores responsáveis por variar a sintomatologia observada entre as granjas. Nesta UPL, acredita-se que a alta porcentagem de primíparas possa ter contribuído para o surto de diarreia, uma vez que a imunidade das leitoas de reposição é, naturalmente, inferior a das porcas multíparas. A vacinação das fêmeas primíparas é uma das alternativas para prevenir a rotavirose, no entanto, a existência de múltiplos sorogrupos e sorotipos dificulta que a proteção contra o vírus seja realmente consistente. O aumento da imunidade das leitoas também pode ser alcançado por meio da exposição à infecção pelas fezes de porcas mais velhas. Esse manejo, além de prevenir que as fêmeas eliminem o vírus durante a lactação, também aumenta a qualidade do colostro, uma vez que o contato prévio com o vírus permite a produção de anticorpos específicos contra o mesmo.
Tratando-se de um vírus que é extremamente resistente às condições ambientais, deve-se salientar a importância da limpeza, da desinfecção e do vazio sanitário entre lotes. Não existe um tratamento específico para a rotavirose. Soluções hidratantes podem ser fornecidas aos leitões e a utilização dos antibióticos é feita para controlar as infecções secundárias. Ressalta-se que as medidas terapêuticas precisam ser orientadas por um médico veterinário que conheça os sinais clínicos e o histórico do rebanho.
Foto 1 e 2: Eliana Paladino
Foto 3: Michelle Gabardo
Foto 4: David Barcellos
Referências:
Morés, N.; Brito, W.; Driemeier, D. Rotavirose. Sobestiansky, J.; Barcellos, D. Doenças dos Suínos. 2. ed.Canone. Goiania, 2012 p. 395-400.