Doença do edema: como prevenir?
A doença do edema está disseminada por todo o mundo, sendo responsável por perdas econômicas expressivas na suinocultura nacional. Modificar este cenário, em consonância com a necessidade da redução no uso de antimicrobianos, tem sido um grande desafio para o setor. E, para tanto, os maiores esforços têm sido dedicados a fim de evitar a entrada e a disseminação da doença nas granjas, utilizando medidas básicas – mas rígidas – de prevenção (Taylor, 2013).
Medidas de higiene consideradas simples são fundamentais para evitar a proliferação da Escherichia coli, o patógeno causador da doença do edema. Dentre as principais práticas a serem reforçadas estão: respeitar o vazio sanitário na troca dos lotes; limpar e desinfectar regularmente e com desinfetantes apropriados todos os equipamentos utilizados, bem como, as baias ocupadas; e garantir que as baias estejam limpas e secas antes da inserção dos animais. Embora estas medidas sejam simplórias, aplicá-las de forma rigorosa é imprescindível para o sucesso no manejo sanitário (Laird et al., 2021).
Outro princípio preventivo que pode ser adotado está relacionado à alterações na formulação da ração dos leitões. Isso porque mudanças estratégicas na dieta têm promovido resultados benéficos no que diz respeito à sua suscetibilidade à infecção por E. coli. Sabe-se que reduzir as concentrações de proteína e energia e adicionar maiores níveis de fibras não digeríveis na ração tem sido uma boa opção. Além disso, outra alteração eficiente é adicionar ácidos orgânicos e óxido de zinco à formulação da ração: esta medida, tem apresentado melhora tanto em relação ao desempenho no crescimento dos leitões, quanto na modulação da microbiota intestinal (Thacker, 2013; Choi et al., 2020). No entanto, apesar da eficácia do uso de óxido de zinco, essa prática vem sendo questionada e proibida em alguns países (Brisola et al., 2019).
O diagnóstico correto também é fundamental para direcionar o tratamento e as medidas adequadas. No entanto, o uso exclusivo de PCR convencional para diagnóstico pode apresentar algumas limitações para identificar os fatores de virulência em amostras de suínos doentes. Essa abordagem não permite a quantificação do patógeno e pode resultar em uma mistura de fatores de virulência detectáveis pertencentes a diferentes cepas de E. coli presentes na amostra, levando a combinações falsas desses fatores. Ademais, existe a possibilidade de que genes semelhantes de fatores de virulência de outras bactérias intestinais da família Enterobacteriaceae sejam detectados, dificultando a interpretação dos resultados (Cruz, 2019)
Dessa forma, a vacinação ainda é a forma mais eficaz e segura para proteção dos animais. Um dos cenários clínicos mais comuns da doença do edema está associado a perdas que ocorrem de 2 a 4 semanas pós-desmame, após a mudança da ração de pré-inicial para inicial. Mesonero-Escuredo et al. (2021) avaliaram 1344 suínos de creche de uma propriedade com histórico clínico de doença do edema, e observaram que com uma mudança na alimentação (pré-inicial para inicial) e retirada da administração de ZnO ao mesmo tempo, a taxa de mortalidade em animais vacinados foi significativamente menor, onde os animais não vacinados sofreram um risco quase 12 vezes maior de perdas em comparação com animais vacinados. Além disso, o ganho de peso diário (387,3g/d vs. 375,0 g/dia, respectivamente, para animais vacinados e não vacinados) e o consumo de ração (563,6 g/d vs/ 541,4g/d, respectivamente, para animais vacinados e não vacinados) foram significativamente maiores.
No entanto, é necessário que mais possibilidades de vacinas contra a doença do edema sejam disponibilizadas para uso comercial do Brasil. Assim, com a imunização dos animais somada às bem aplicadas medidas sanitárias e a redução dos fatores estressantes, temos uma estratégia perspicaz para melhorar a condição sanitária do rebanho e então, sermos capazes de modificar o cenário atual em relação à doença do edema no país.
Referências bibliográficas
Brisola, M. C., Crecencio, R. B., Bitner, D. S., Frigo, A., Rampazzo, L., Stefani, L. M., & Faria, G. A. (2019). Escherichia coli used as a biomarker of antimicrobial resistance in pig farms of Southern Brazil. Science of the total environment, 647, 362-36
Choi, J., Wang, L., Liu, S., Lu, P., Zhao, X., Liu, H., Lahaye, L., Santin, E., Liu, S., Nyachoti, M., Yang, C. Effects of a microencapsulated formula of organic acids and essential oils on nutrient absorption, immunity, gut barrier function, and abundance of enterotoxigenic Escherichia coli F4 in weaned piglets challenged with E. coli F4. J Anim Sci, v.1;98(9):skaa259, 2020.
Cruz, B. A. D. (2019). Colibacilose suína, patogenia, diagnóstico e tratamento: o que há de novo?.
Laird, T.J., Abraham, S., Jordan, D., Pluske, J.R., Hampson, D.J., Trott, D.J., O’Dea, M. Porcine enterotoxigenic Escherichia coli: Antimicrobial resistance and development of microbial-based alternative control strategies. Vet Microbiol, v.258:109117, 2021.
Mesonero-Escuredo, S., Morales, J., Mainar-Jaime, R. C., Díaz, G., Arnal, J. L., Casanovas, C., … & Segalés, J. (2021). Effect of edema disease vaccination on mortality and growth parameters in nursery pigs in a shiga toxin 2e positive commercial farm. Vaccines, 9(6), 567.
Taylor, D. J. Pig diseases. 5m Publishing, ed.9, 2013.
Thacker, P.A. Alternatives to antibiotics as growth promoters for use in swine production: a review. J Anim Sci Biotechnol, v.4, p.35-47, 2013.