Influenza A vírus em suínos: Qual o verdadeiro desafio?
Na produção de suínos, as enfermidades respiratórias são um dos principais desafios encontrados, pois interferem no bem estar animal, causando perdas econômicas para toda a cadeia de produção. O vírus da Influenza A (IAV) é um agente primário que causa desafios respiratórios não só em suínos, apresentando caráter zoonótico e de grande importância em saúde pública. Apesar de ser uma enfermidade importante, não é uma doença de notificação obrigatória pela Organização Mundial da Saúde Animal (OIE), por apresentar sinais clínicos leves em suínos.
O suíno, por sua vez, passa a ser um hospedeiro muito importante quando se trata da dinâmica e epidemiologia do vírus, pois ele é a espécie alvo, albergando mais de um subtipo de diferentes espécies, o que aumenta a probabilidade de rearranjos gênicos, onde mutações ou novos sorotipos são formados. Isto só é possível pelo fato do genoma do IAV ser segmentado, permitindo que ele sofra tais rearranjos gênicos, sejam eles em menor (Antigenic Drift) ou maior nível (Antigenic Shift) (Figura 1).
Figura 1. Figura esquemática dos processos de mutações pontuais (Antigenic Drift) e rearranjos gênicos (Antigenic Shift) que ocorrem no genoma do Influenza A vírus e suínos.
É importante mencionar que o ser humano tem um papel importantíssimo na dinâmica de transmissão do vírus ao suíno, sendo ele o responsável por esta transmissão inicial.
Pensando no desafio de IAV dentro da produção de suínos, devemos pensar em alguns aspectos, especialmente se o rebanho é livre do vírus, se é positivo ou endêmico. Isto faz total diferença na severidade dos sinais clínicos, em que rebanhos livres geralmente apresentam quadros clínicos mais agudos e em instalações já positivas ou endêmicas, os prejuízos ficam mais em âmbito econômico.
No Brasil os subtipos mais presentes são H1N1pdm09 / H1N2 e H3N2. Entretanto, o diagnóstico do IAV, apesar de simples, precisa ser rápido, pois o agente permanece no hospedeiro em torno de 6 a 8 dias, e, posteriormente, não é mais detectado. Portanto, em quadros que se suspeite de IAV, é importante que as amostras destinadas para o diagnóstico sejam colhidas o mais rápido possível, aumentando assim o êxito no diagnóstico.
Como sempre, para o processo de diagnóstico devemos selecionar animais em curso clínico agudo do desafio. É importante optar por animais que apresentaram febre, secreção nasal, prostração e nunca escolher um animal refugo, pois poderá mascarar o agente de fato causal do quadro clínico. Para IAV, a coleta de fluido oral é uma ótima opção, bem como a secreção nasal. Para esse último, é importante que se colha um material da laringe, sendo necessário a colheita de material com suabe profundo. Também é indicado a coleta de fragmentos de pulmão imediatamente após eutanásia para análises moleculares como RT-PCR e também fixados em formol à 10% para histopatologia e imunohistoquímica.
O controle da IAV deve ser feito através de boas medidas de biosseguridade externa e interna à granja, além de, principalmente, não permitir que colaboradores que apresentem sintomas de resfriado e/ou gripe estejam em contato direto com suínos. Outro ponto importante é a vacinação anual de todos os colaboradores da granja.
Ainda pensando em controle, o uso de vacinas é uma importante ferramenta de profilaxia. Entretanto, como já comentado e pela facilidade de mutações e/ou rearranjos gênicos, é importante identificar qual subtipo de IAV está presente na granja, para que a vacina surta o efeito desejado, uma vez que não há proteção cruzada. Os protocolos vacinais devem ser posicionados estrategicamente de acordo com o momento de maior desafio, ficando muito a caráter de cada granja. Tudo isso contribuiu para uma abordagem vacinal muito específica, variando de uma fazenda para outra, dificultando uma estratégia única para diferentes realidades.
Portanto, estas informações são extremamente importantes para criar um sistema de monitoramento e melhor controlar este importante vírus que, devido às nossas experiências recentes, veio para ficar.