Influenza suína – Caso clínico
Uma granja de ciclo completo apresentou piora no desempenho de um dos lotes da fase de creche. De acordo com os funcionários, os leitões foram desmamados aos 21 dias de idade e transferidos, sem maiores dificuldades, às novas instalações. Cinco dias após a transferência, observaram que houve redução do consumo de ração com consequente piora de condição corporal. Apesar da temperatura retal não ter sido aferida, constataram que os leitões apresentaram febre, pois observou-se amontoamento nas baias. Não houve morte de leitões, entretanto, a morbidade correspondeu a cerca de 80% do lote. Três dias depois, o veterinário responsável pela granja realizou uma visita para diagnóstico do problema. Ao verificar o lote acometido, observou-se aumento da intensidade de espirros e tosse, acompanhados por descargas nasais serosas e casos de conjuntivite. Não havia amontoamento nas baias, mas identificou-se alguns animais febris após aferição da temperatura retal. De acordo com os funcionários, o lote parecia estar se recuperando, uma vez que os sinais clínicos apresentavam-se mais brandos se comparados ao início do surto. Os leitões voltaram a se alimentar.
Por serem sinais clínicos inespecíficos, o veterinário decidiu enviar amostras para exames laboratoriais a fim de confirmar seu diagnóstico. Selecionou leitões que ainda estivessem na fase aguda da doença, febris, com ou sem tosse. Os animais refugos, medicados e que morreram espontaneamente não seriam indicados para realização de um diagnóstico preciso. Foram coletadas amostras de secreções nasais utilizando-se swabs com meio de transporte com solução salina de fosfatos, enviados ao laboratório sob refrigeração. Dentre os animais selecionados, dois foram eutanasiados e necropsiados em seguida. No exame macroscópico dos pulmões, notou-se ausência de colabamento e lóbulos com áreas multifocais de consolidação vermelho-escuras (pulmão com aspecto de tabuleiro de xadrez). Fragmentos de pulmão, linfonodos, rim e baço foram fixados em solução de formalina 10%. Microscopicamente, observou-se focos de necrose nos alvéolos e no epitélio bronquial e bronquiolar, e pneumonia do tipo intersticial. As lesões eram muito sugestivas de influenza suína, diagnóstico que foi confirmado após a imuno-histoquímica (IHQ), na qual identificou-se marcações específicas em células epiteliais de brônquios e bronquíolos. Não foram observadas lesões macro ou microscópicas nos outros órgãos.
Os swabs nasais foram testados com RT-PCR em tempo real, um teste molecular capaz de detectar e quantificar a carga viral presente na amostra. Assim como na IHQ, os resultados do teste foram positivos para o vírus da influenza A, sendo ainda possível caracterizá-lo como subtipo H1N1 pandêmico. O exame sorológico também poderia ter sido feito com o objetivo de determinar o estado imune do rebanho, identificando a provável fase de infecção pelo vírus e determinando, dessa forma, o melhor momento para utilização de medicações estratégicas ou vacinação.
A influenza suína é uma doença respiratória altamente infecciosa e de grande importância para a saúde humana e animal. É causada pelo vírus da influenza A, um vírus do tipo RNA que devido a sua capacidade de mutação e rearranjo gênico, apresenta grande variabilidade genética. Caracteriza-se por cursar com baixa mortalidade e alta morbidade, piora no desempenho e aumento nos custos de medicamentos. Os suínos são considerados portadores dos subtipos A/H1N1, A/H3N2, A/H1N2 e H1N1pdm09. O período de incubação pode variar de 2 a 7 dias, sendo também uma doença de curso rápido (os animais se recuperam entre 4 a 7 dias) se não houver complicações por infecções secundárias.
As medidas de prevenção envolvem manejos ambientais, como ajuste da densidade nas baias, limpeza das instalações, diminuição de fatores estressantes, manejo correto das cortinas. Em alguns rebanhos, a vacinação tem sido uma estratégia interessante na redução dos sinais clínicos e eliminação do vírus, e na diminuição da severidade de lesões. Entretanto, o uso deve ser estudado com cautela, uma vez que a proteção vacinal é limitada devido à falta de proteção cruzada entre os subtipos virais que podem estar presentes no rebanho.
O status imunológico das matrizes também é muito importante no controle da doença. Sabe-se que as porcas são importantes fontes de transmissão do vírus para os leitões e a severidade dos sinais clínicos, juntamente com taxa de excreção viral, serão mais intensas se o nível de anticorpos maternos for baixo. Dessa forma, o manejo correto de colostro também é fundamental no controle da doença clínica.
Foto 1 – Jamil Faccin
Foto 2 – Carlos Alberto Pereira Junior
Foto 3 – Ana Luiza Soares Fraiha. Moderada imunomarcação (cor vermelha) de antígenos virais em células do epitélio bronquiolar e em células inflamatórias
Foto 4 – Ana Luiza Soares Fraiha. Espessamento dos septos alveolares com acúmulo de macrófagos, neutrófilos e pneumócitos do tipo 2. Acúmulo de exsudato no lúmen
Foto 5 – Ana Luiza Soares Fraiha – Intensa hiperplasia do epitélio brônquico com infiltração de neutrófilos e acúmulo de exsudato no lúmen
Referências:
ANDRADE, M.R.; SATO, J.P.; BARCELLOS, D.E. Aspectos práticos sobre a ocorrência e controle da influenza em granjas suínas no Brasil. In:Anais doVII Simpósio Internacional de Suinocultura. (Porto Alegre). 2012.
SCHAEFER, R.; RECH, R. R.; SILVA, M. C.; GAVA, D.; ZANELLA, J. R. C. Orientações para o diagnóstico de influenza em suínos. Pesq. Vet. Bras. 33(1):61-7.2013.
ZANELLA, C.Z.; Bretano, L. Influenza suína. Sobestiansky, J.; Barcellos, D. Doenças dos Suínos. 2. ed.Canone. Goiania, 2012 p. 355-362.