Manejo dos leitões e estresse: existe um meio termo?
Os primeiros dias de vida dos leitões são marcados por diversos manejos, que são essenciais para a sua sobrevivência e performance. Muitas destas ações envolvem a exposição dos animais ao contato humano, incluindo o corte e desinfecção do cordão umbilical, homogeneização de leitões, aplicação de ferro, desbaste dos dentes, corte de cauda, identificação, castração e tratamentos terapêuticos (Baxter et al., 2013).
Entretanto, muitas práticas até então comuns na maternidade vêm sendo repensadas sob a perspectiva do bem-estar animal, já que algumas delas, além de causar injúrias aos leitões, são potenciais causas de dor e estresse (Prunier et al., 2020). A Instrução Normativa 113 de 2020 indica, por exemplo, que a partir de 2030 a analgesia e a anestesia devem ser aplicadas em todos os procedimentos de castração no Brasil. Já o corte de cauda e o desbaste dos dentes são permitidos (respeitando alguns critérios básicos, como idade mínima para o procedimento e área a ser cortada/desbastada) enquanto o corte de dentes torna-se uma prática proibida.
A maneira como os animais são manejados, independentemente dos procedimentos, também deve ser considerada. Sommavilla et al. (2011) observaram o comportamento de leitões recém-nascidos submetidos a tratamentos neutros e hostis pelos cuidadores e concluíram que os animais evitam interações humanas quando estes são conduzidos de forma hostil, agravando o medo e estresse quando os animais chegavam ao desmame.
Ademais, a frequência e a duração do manejo também são fatores críticos, indicando que os produtores devem otimizar os processos da maternidade. Por exemplo, medicações combinadas (dois ou mais princípios ativos), que reduzam o número de intervenções terapêuticas e o tempo de manipulação do leitão, além de promoverem o tratamento integrado de doenças, são excelentes estratégias para maximizar o bem-estar dos animais. (Joachim et al., 2018).
Portanto, a cadeia de produção de suínos tem estado atenta às práticas de manipulação dos leitões em seus primeiros dias de vida e seus reflexos no bem-estar. Quando a manipulação é necessária para a sobrevivência e bom desempenho dos suínos, utilizar estratégias que minimizem a exposição à dor e o tempo e a frequência de contato humano são fundamentais.
Referências
Baxter, E. M., Rutherford, K. M. D., D’eath, R. B., Arnott, G., Turner, S. P., Sandøe, P., … & Lawrence, A. B. (2013). The welfare implications of large litter size in the domestic pig II: management factors. Animal Welfare, 22(2), 219-238. Doi: https://doi.org/10.7120/09627286.22.2.219
Brasil (2020) Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa nº 113, de 16 de dezembro de 2020. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 16 dez. 2020. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/instrucao-normativa-n-113-de-16-de-dezembro–de-2020-294915279. Acesso em: 07 novembro 2021.
Joachim, A., Shrestha, A., Freudenschuss, B., Palmieri, N., Hinney, B., Karembe, H., & Sperling, D. (2018). Comparison of an injectable toltrazuril-gleptoferron and an oral toltrazuril + injectable iron dextran for the control of experimentally induced piglet cystoisosporosis. Parasites & vectors, 11(1), 1-7. Doi: https://doi.org/10.1186/s13071-018-2797-5
Prunier, A., Devillers, N., Herskin, M. S., Sandercock, D. A., Sinclair, A. R. L., Tallet, C., & von Borell, E. (2020). Husbandry interventions in suckling piglets, painful consequences and mitigation. In The suckling and weaned piglet (pp. 107-138). Wageningen Academic Publishers.
Sommavilla, R., Hötzel, M. J., & Dalla Costa, O. A. (2011). Piglets’ weaning behavioural response is influenced by quality of human–animal interactions during suckling. Animal, 5(9), 1426-1431. Doi: https://doi.org/10.1017/S1751731111000358