Principais ferramentas para o controle da Colibacilose Pós-desmame
Ao discutir sobre o controle da Colibacilose Pós-Desmame (CPD), geralmente se dá muita atenção a qual o antimicrobiano e/ou produto precisa ser utilizado para tal finalidade. No entanto, antes de evoluirmos para essa discussão, precisamos entender que a CPD é uma doença associada a fatores de risco e que, o manejo correto destes será crucial para o sucesso no controle da doença. Manejos essenciais como a ingestão adequada de colostro, idade ao desmame, condições de alojamento (limpeza, desinfecção e vazio sanitário), temperatura das instalações, densidade adequada, qualidade e garantia de consumo de ração e biosseguridade são essenciais para proporcionar menos desafio aos leitões nos primeiros dias após o desmame. Além disto, o diagnóstico correto da doença, vai nortear as possíveis medidas que serão adotadas no tratamento, controle e monitoramento dos resultados. Essas medidas básicas são o primeiro passo para o controle da CPD e, a partir do momento que estão sendo bem manejadas, poderemos tomar as melhores decisões relacionadas aos produtos que vamos usar para auxiliar nesse processo.
Entre os antibióticos disponíveis para o controle da CPD (causada pela E. coli), um dos mais conhecidos e utilizados mundialmente é a colistina, antibiótico classificado como altíssima prioridade entre os criticamente importantes de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). Dois levantamentos realizados em granjas de suínos na Bélgica, em 2006 e 2012, confirmaram que a colistina foi o antimicrobiano mais utilizado no tratamento da CPD. Em um estudo na França, foi relatado que 90% das granjas de suínos usavam colistina durante o período pós-desmame. Apesar disso, o uso massivo e irrestrito de colistina está com os dias contados. Em muitos países já ocorreu o banimento da molécula, quer como promotor de crescimento, quer como terapêutico. No Brasil, a colistina está proibida como promotora de crescimento, mas segue permitida com registro terapêutico. Mesmo assim, muitos produtores têm buscado outras opções de antibióticos devido a possibilidade de sua proibição futura, assim como já aconteceu em outros países da América Latina (Argentina, Uruguai, Peru, etc).
Além da colistina, outros antimicrobianos podem ser utilizados buscando auxiliar no controle e tratamento da CPD, como por exemplo o halquinol. Essa molécula, porém, possui algumas restrições regulatórias, o que limita seu uso em países exportadores, como o Brasil. Entre outros princípios ativos com ação para E. coli que podem ser utilizados via água ou ração para controlar a CPD, podemos citar os aminoglicosídeos (gentaminicina e neomicina), quinolonas (ciprofloxacina), sulfonamidas (sulfas, geralmente associadas com trimetropin), lincosamidas (lincomicina+ espectinomicina), por exemplo. Porém, estes antibióticos são classificados pela OMS como criticamente (aminoglicosídeos e quinolonas) e altamente (lincosamidas e sulfonamidas) importantes à medicina humana, tendo seu uso restrito à terapêutico e com recomendações, no caso dos criticamente importantes, a serem utilizados apenas como última alternativa terapêutica. E para ambas as classificações a orientação de não utilizar em metafilaxia e profilaxia, o que é realidade no controle da CPD.
Um princípio ativo que vem ganhando espaço no controle da CPD é a avilamicina, um dos poucos antibióticos de uso exclusivo em animais, apresentando limitada absorção intestinal e baixo risco de resistência. Somado a isto, possui limite máximo de resíduos (LMR) estabelecido por diferentes legislações (ex.: CODEX, Rússia, Japão, Europa, China) e não requer período de retirada. Estudos demonstraram que a avilamicina possui um modo de ação exclusivo e diferente de outros antibióticos, inibindo a produção das fímbrias da E. coli, o que reduz a sua capacidade de adesão aos enterócitos. Sem a adesão, a bactéria não consegue produzir as toxinas e acaba sendo eliminada no processo intestinal, reduzindo a ocorrência de diarreia em leitões desmamados. Dados obtidos na Comissão Japonesa de Segurança Alimentar em 2004 indicam que a administração de avilamicina a suínos e aves não afeta a seleção de cepas de E. coli resistentes a outros antimicrobianos, exatamente em decorrência de seu mecanismo de ação.
Além do uso de antibióticos, outros produtos vêm sendo utilizados como terapias de suporte no controle da CPD. Um exemplo disso é a adição de óxido de zinco (ZnO), opção que demonstra eficácia, mas que estará proibida na Europa a partir de 2022, por decisão da Agência de Medicina Européia. Probióticos e os ácidos orgânicos são opções que vêm ganhando espaço nos últimos anos. E, em alguns países da Europa e América do Norte, está disponível a vacina oral contra E. Coli, avirulentas vivas e atenuadas para uso em leitões a partir de 18 dias de idade. Todas estas ferramentas são importantes para complementar os manejos dos fatores de risco e, dessa forma, obter mais sucesso no controle da Colibacilose Pós-desmame.
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